sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Eu, feminista

Vamos falar sobre Lotta, ou da razão de nascimento desta coluna.

Nota 2 ao final do texto.
 É engraçado pensar que tanto esta coluna, quanto o blog em si, nasceram a partir de algo que capturou minha atenção num dia de? Domingo, sempre ele. Esse é o dia que eu normalmente compro a versão impressa do jornal O Globo. Talvez, eu seja uma pessoa um pouco estranha, mas nunca olho o jornal em ordem. Assim, ao ler uma matéria sobre o Parque do Flamengo, fiquei maravilhada em saber que a idealização dele veio da Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, ou Lotta – uma mulher incrível.

Mas então, por que o nome dela só aparece em terceiro lugar no subtítulo da matéria???
Se vocês repararem na imagem aqui em cima, o nome dela é apenas o terceiro, aliás apenas o apelido pelo qual era em parte conhecida. Vejam que antes de Lotta há, em ordem de citação, o nome de Burle Marx (paisagista) e Affonso Reidy (arquiteto). São nomes conhecidos e importantes desta área criativa e visual brasileira (em falta de um termo melhor), porém não foi deles o projeto que estampa a matéria criticada.
O nome dela deveria ter sido o primeiro, ela foi a pessoa mais importante na realização dessa obra, ainda que os outros também tenham participado do projeto. Isso é uma forma de apagamento, como se Lotta ser a imagem do Parque não é bom o bastante. Só há respaldo se colocarmos o nome de um homem forte, que de certa maneira sarcástica foi chamado por ela para compor o grupo de trabalho do projeto. Essa é mensagem que passa.
Será por ser mulher? Será por ser lésbica? Para quem não sabe, o Parque do Flamengo foi inspirado no Central Park de Nova York no período em que Lotta esteve lá com Elizabeth Bishop, poetisa americana que foi sua mulher.
_Ai, Patricia, você está exagerando, essa ordem não tem nada a ver. Eles só queriam chamar a atenção para matéria. Além do mais já havia a ideia para um parque no Flamengo, inclusive amadurecida por Affonso Reidy e Burle Marx quando trabalhavam nos jardins do MAM.
Não, não! Tem tudo a ver sim, se Lotta tivesse sido um homem, com certeza seu nome teria sido o primeiro. A matéria inteira trata do parque em si e de todo o processo pelo qual se passou para que a ideia concretizasse. Não foi Burle Marx, não foi Affonso Reidy, foi Lotta Macedo Soares. O destaque é para ela.
Há pitadas de um e de outro, bem como dos demais que participaram do grupo de trabalho, contudo, o necessário para o Parque do Flamengo que temos hoje foi devido a briga e o visionarismo de Lotta. Ideia certa, no lugar e horas certos.
Então, Jornal O Globo, por favor, se a matéria for de algo relacionado a uma mulher, coloque ela em destaque, tá? Todo o mais é apagamento.
Pensem, contestem e opinem.

Nota:
[1] De Monte de entulho a parque com grife – matéria original por Ludmilla de Lima e Rafael Galdo do Jornal O Globo do dia 11 de outubro de 2015. Pode ser lida aqui.
[2] Este artigo segue os termos da Lei de Direitos Autorais (Lei Federal 9.610 de 1998 – aqui para a lei completa), no qual para fins de crítica poderá ser reproduzida parte da obra com indicação do autor e origem daquela, conforme inciso III do art. 46.
[3] Para saber mais sobre Lotta:
Página na Wikipédia.

Instituto Lotta – há inclusive uma parte sobre a obra do Parque do Flamengo.

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