Vamos
falar sobre Lotta, ou da razão de nascimento desta coluna.
Nota 2 ao final do texto. |
É engraçado pensar que tanto esta coluna, quanto o blog em si,
nasceram a partir de algo que capturou minha atenção num dia de?
Domingo, sempre ele. Esse é o dia que eu normalmente compro a versão
impressa do jornal O Globo. Talvez, eu seja uma pessoa um pouco
estranha, mas nunca olho o jornal em ordem. Assim, ao ler uma matéria
sobre o Parque do Flamengo, fiquei maravilhada em saber que a
idealização dele veio da Maria Carlota Costallat de Macedo Soares,
ou Lotta – uma mulher incrível.
Mas
então, por que o nome dela só aparece em terceiro lugar no
subtítulo da matéria???
Se vocês
repararem na imagem aqui em cima, o nome dela é apenas o terceiro,
aliás apenas o apelido pelo qual era em parte conhecida. Vejam que
antes de Lotta há, em ordem de citação, o nome de Burle Marx
(paisagista) e Affonso Reidy (arquiteto). São nomes conhecidos e
importantes desta área criativa e visual brasileira (em falta de um
termo melhor), porém não foi deles o projeto que estampa a matéria
criticada.
O nome
dela deveria ter sido o primeiro, ela foi a pessoa mais importante na
realização dessa obra, ainda que os outros também tenham
participado do projeto. Isso é uma forma de apagamento, como se
Lotta ser a imagem do Parque não é bom o bastante. Só há respaldo
se colocarmos o nome de um homem forte, que de certa maneira
sarcástica foi chamado por ela para compor o grupo de trabalho do
projeto. Essa é mensagem que passa.
Será por
ser mulher? Será por ser lésbica? Para quem não sabe, o Parque do
Flamengo foi inspirado no Central Park de Nova York no período em
que Lotta esteve lá com Elizabeth Bishop, poetisa americana que foi
sua mulher.
_Ai,
Patricia, você está exagerando, essa ordem não tem nada a ver.
Eles só queriam chamar a atenção para matéria. Além do mais já
havia a ideia para um parque no Flamengo, inclusive amadurecida por
Affonso Reidy e Burle Marx quando trabalhavam nos jardins do MAM.
Não,
não! Tem tudo a ver sim, se Lotta tivesse sido um homem, com certeza
seu nome teria sido o primeiro. A matéria inteira trata do parque em
si e de todo o processo pelo qual se passou para que a ideia
concretizasse. Não foi Burle Marx, não foi Affonso Reidy, foi Lotta
Macedo Soares. O destaque é para ela.
Há
pitadas de um e de outro, bem como dos demais que participaram do
grupo de trabalho, contudo, o necessário para o Parque do Flamengo
que temos hoje foi devido a briga e o visionarismo de Lotta. Ideia certa,
no lugar e horas certos.
Então,
Jornal O Globo, por favor, se a matéria for de algo relacionado a
uma mulher, coloque ela em destaque, tá? Todo o mais é apagamento.
Pensem,
contestem e opinem.
Nota:
[1] De
Monte de entulho a parque com grife – matéria original por
Ludmilla de Lima e Rafael Galdo do Jornal O Globo do dia 11 de
outubro de 2015. Pode ser lida aqui.
[2] Este
artigo segue os termos da Lei de Direitos Autorais (Lei Federal 9.610
de 1998 – aqui para a lei completa), no qual para fins de crítica
poderá ser reproduzida parte da obra com indicação do autor e
origem daquela, conforme inciso III do art. 46.
[3] Para
saber mais sobre Lotta:
Página
na Wikipédia.
Instituto Lotta – há inclusive uma parte sobre a obra do Parque do Flamengo.
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