O tempo
de fazer é agora e com muito barulho.
Você
consome arte?
Não, não
estou falando sobre pedantismo ao estilo: tenho um Vermeer[1] em
casa. São poucos que podem fazer algo assim, todavia eles existem e
podem estar ao seu lado. Eu sempre convivi com as cópias, mas o
importante é: elas te fazem pensar?
A arte, a
ciência, a religião, o raio que o parta qualquer deveria mover o
seu mundo. Como assim? Eu diria você consegue imaginar um mundo com
um tipo de paradigma único? Não consegue? Voltemos ao menos uns mil
anos aí: Idade Média – na Europa como ponto central para nós
aqui. Ainda que estejamos falando de uma época que foi muito rica
culturalmente, havia uma preocupação do principal grupo religioso,
a ICAR[2], de manter controle sobre o que ia na cabeça de todos, não
apenas dos seus fiéis.
No
entanto, controle é algo um tanto quanto escorregadio. Ninguém
controla a trilha de pensamentos, se em um momento estamos pensando
em abobrinha, no outro já pensamos nas implicações políticas da
questão da grande indústria agrária e o que os agrotóxicos fazem
conosco – ao menos o meu chegaria aí e provavelmente eu estaria
pesquisando a respeito. E, talvez, por isso que não continuamos
nesse período histórico em específico.
Para
ter-se uma ideia a esse respeito, você já pensou que houve um
momento em que se achava que o universo que tínhamos era limitado ao
que se via ao céu. Não havia nada além do que havia por sobre
nossas cabeças, e ir além disso era considerado contra lei. De
forma a ir contra dogmas religiosos, não apenas de se ter uma ideia
diferente das demais!
Só o
fogo, salva! Quem levantava palavras contra o estabelecido, era salvo
queimado. O destino era a fogueira para o herege e suas obras. Não,
isso não é um eufemismo. Muitos foram condenados por viverem por
seus pensamentos.
O pior de
tudo é saber que nem sempre há reconhecimento de que a instituição
agiu de maneira errada – veja no caso de Giordanno Bruno[3]. Quando
comento acima sobre se pensar o universo, é este cientista que
começa a trabalhar com essa ideia de algo ilimitado. Ainda que ele
estivesse completamente errado sobre o que escreveu, pesquisou ou
pensou, nada deveria dar poder a outrem de matá-lo.
Mas hoje,
vejo mais e mais irmos novamente por esse caminho. Vivemos tempos
estranhos e não digo isso pela crise econômica. E sim pela forma
como alguns grupos sociais estão se desenvolvendo e não aceitando
que outros critiquem o que são suas bases diárias, seja em termos
políticos, ou demais termos sociais e culturais.
A arte é
uma arma e quando coloco isso como uma forma de se pensar é
exatamente por isso: pensar. Vamos considerá-la como algo mais do
que embelezar sua casa. Nem sempre ela poderá ser algo que lhe traga
conforto, também tem que estar do outro lado da moeda: causar
inconveniência. Você passa a se questionar a respeito disso, e do
porquê que isso ocorre.
É um
exercício que eu recomendo. Pode construir empatia e a se melhorar
como pessoa. Tentar enxergar no que o artista estava visando ao
desenvolver aquela obra. Mesmo que você ache que não sirva para
coisa nenhuma – e vai ter muita coisa que não dá para levar
para casa – ela vai estar contigo sempre e poderá fazer com que se
considere outras coisas.
Triste é,
muito mais do que não poder ver pessoalmente a arte, destruir e não
dar outros a oportunidade de tirarem suas próprias conclusões a
respeito. Porque arte e cultura não é apenas aquilo que você
considera como tal, porém tudo aquilo que faz mover o seu mundo,
mesmo que não seja do jeito esperado ou que você goste.
Pensem,
contestem e opinem.
NOTAS:
[1] Johannes Vermeer - um pouco de sua história aqui.
No Google Arts aqui. Você sempre pode fazer mais buscas, esta é apenas uma delas. ;)
[2] ICAR: Igreja Católica Apostólica Romana
[3] Passo aqui os links da Wikipédia em português e em inglês a respeito dele. Na língua inglesa, está mais completo quanto o posicionamento atual da ICAR.
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