domingo, 13 de setembro de 2015

A Arma

O tempo de fazer é agora e com muito barulho.

Você consome arte?
Não, não estou falando sobre pedantismo ao estilo: tenho um Vermeer[1] em casa. São poucos que podem fazer algo assim, todavia eles existem e podem estar ao seu lado. Eu sempre convivi com as cópias, mas o importante é: elas te fazem pensar?

A arte, a ciência, a religião, o raio que o parta qualquer deveria mover o seu mundo. Como assim? Eu diria você consegue imaginar um mundo com um tipo de paradigma único? Não consegue? Voltemos ao menos uns mil anos aí: Idade Média – na Europa como ponto central para nós aqui. Ainda que estejamos falando de uma época que foi muito rica culturalmente, havia uma preocupação do principal grupo religioso, a ICAR[2], de manter controle sobre o que ia na cabeça de todos, não apenas dos seus fiéis.
No entanto, controle é algo um tanto quanto escorregadio. Ninguém controla a trilha de pensamentos, se em um momento estamos pensando em abobrinha, no outro já pensamos nas implicações políticas da questão da grande indústria agrária e o que os agrotóxicos fazem conosco – ao menos o meu chegaria aí e provavelmente eu estaria pesquisando a respeito. E, talvez, por isso que não continuamos nesse período histórico em específico.
Para ter-se uma ideia a esse respeito, você já pensou que houve um momento em que se achava que o universo que tínhamos era limitado ao que se via ao céu. Não havia nada além do que havia por sobre nossas cabeças, e ir além disso era considerado contra lei. De forma a ir contra dogmas religiosos, não apenas de se ter uma ideia diferente das demais!
Só o fogo, salva! Quem levantava palavras contra o estabelecido, era salvo queimado. O destino era a fogueira para o herege e suas obras. Não, isso não é um eufemismo. Muitos foram condenados por viverem por seus pensamentos.
O pior de tudo é saber que nem sempre há reconhecimento de que a instituição agiu de maneira errada – veja no caso de Giordanno Bruno[3]. Quando comento acima sobre se pensar o universo, é este cientista que começa a trabalhar com essa ideia de algo ilimitado. Ainda que ele estivesse completamente errado sobre o que escreveu, pesquisou ou pensou, nada deveria dar poder a outrem de matá-lo.
Mas hoje, vejo mais e mais irmos novamente por esse caminho. Vivemos tempos estranhos e não digo isso pela crise econômica. E sim pela forma como alguns grupos sociais estão se desenvolvendo e não aceitando que outros critiquem o que são suas bases diárias, seja em termos políticos, ou demais termos sociais e culturais.
A arte é uma arma e quando coloco isso como uma forma de se pensar é exatamente por isso: pensar. Vamos considerá-la como algo mais do que embelezar sua casa. Nem sempre ela poderá ser algo que lhe traga conforto, também tem que estar do outro lado da moeda: causar inconveniência. Você passa a se questionar a respeito disso, e do porquê que isso ocorre.
É um exercício que eu recomendo. Pode construir empatia e a se melhorar como pessoa. Tentar enxergar no que o artista estava visando ao desenvolver aquela obra. Mesmo que você ache que não sirva para coisa nenhuma – e vai ter muita coisa que não dá para levar para casa – ela vai estar contigo sempre e poderá fazer com que se considere outras coisas.
Triste é, muito mais do que não poder ver pessoalmente a arte, destruir e não dar outros a oportunidade de tirarem suas próprias conclusões a respeito. Porque arte e cultura não é apenas aquilo que você considera como tal, porém tudo aquilo que faz mover o seu mundo, mesmo que não seja do jeito esperado ou que você goste.


Pensem, contestem e opinem.

NOTAS:
[1] Johannes Vermeer - um pouco de sua história aqui.
No Google Arts aqui. Você sempre pode fazer mais buscas, esta é apenas uma delas. ;)
[2] ICAR: Igreja Católica Apostólica Romana
[3] Passo aqui os links da Wikipédia em português e em inglês a respeito dele. Na língua inglesa, está mais completo quanto o posicionamento atual da ICAR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário