domingo, 14 de junho de 2015

Esta vida

Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes.

Você já ouviu ou teve a sensação de que a internet é um terra sem lei? Então, deixa eu te contar uma coisa muito importante: isso é uma falácia. As pessoas dizem isso porque convivem com a pirataria diariamente e numa forma promíscua – muitas vezes sem se importar da onde estão tirando e pior, de quem podem estar tirando.

Mas vamos ao nosso dedinho de prosa a respeito do ambiente virtual. Um local, mesmo que existente a partir de uma plataforma digital (como é a internet), que nasceu a partir de interação militar jamais poderá ser um ambiente totalmente livre. Esse nunca vai ser a ideia última sobre ele. Tanto, que você pode notar, a corda sempre rompe do lado mais fraco.
Muitas vezes, em ações de direitos autorais os que foram processados foram os recebedores finais das obras. O pequeno pirata e não o grande. Ou seja, você que está aqui lendo esse pequeno artigo e baixa suas músicas com regularidade, que procura por livro em “.pdf”, que acha caro o ingresso do cinema. Sim, se você mexer algumas teclinhas aqui e ali, os maiores processados foram pessoas que obtinham arquivos a partir da internet de forma caseira. Talvez, como um amigo desses que você conheça, ou não.
Abalou? Provavelmente não, né? Afinal, quem faz isso está tirando dos grandes. Tem certeza disso? Outro dia estava conversando com um amigo escritor e, fora alguns percalços pelos quais ele passava com editoras, não estava nada satisfeito em saber que seu livro estava sendo disponibilizado de forma gratuita sem a sua permissão em grupos de trocas de arquivos de livros.
Ele não estava ganhando rios de dinheiro, mas logo do lançamento, ele disponibilizou gratuitamente a obra através de uma grande loja de livros on line. Foi assim que eu obtive a minha cópia. Mas meu marido, por outro lado, demorou um pouco mais e obteve uma cópia similar a minha de forma paga, porém por um preço praticamente irrisório.
Custa tanto assim, gastar menos de dez reais pelo conteúdo de um pequeno produtor? Mas claro, quando a pessoa acha que está ganhando, nada disso importa. Não devia ser assim, porque isso enfraquece o mercado caseiro. Veja que não falo em mercado nacional, pois se pensarmos em termos dos grandes artistas brasileiros, estes já estão com a vida ganha, mas o pequeno, aquele que grava a todo custo um simples cd para vender sua composições, é esse que perde. Como perde o meu amigo.
E pense mais, se o artista não disponibiliza de forma gratuita, porque muitas vezes ele vive disso e sabe o esforço que teve de ser empreendido, não é quem baixa por canais irregulares, que em nada ajuda, que pode dizer que o trabalho dele é de graça. Assim é fácil ser gostosão.
Azeda? Muito, principalmente por conhecer funcionamento do mercado, e em verdade, eu sou realista.

* Vamos as referências musicais:
"This Life" escrita por Curtis Stigers, Kurt Sutter, Bob Thiele Jr., David “Dave” Kushner; e interpretada por  Curtis Stigers & The Forest Rangers.

“Metamorfose ambulante” escrita e interpretada por Raul Seixas.

Um comentário:

  1. É, a cultura do "vou me dar bem" geralmente quer dizer "alguém será prejudicado" na verdade isso passa por todas as etapas da vida em sociedade, não só na pirataria de livros, revistas músicas e programas.

    É importante lembrar que desde de que a primeira máquina copiadora (xerox) foi criada a pirataria ficou fora de controle, escritores, músicos, autores de todos os tipos, engenheiros, arquitetos, artistas gráficos ilustrador, todos tiveram seus projetos seus trabalhos e idéias copiadas e divulgadas sem permissão ou consentimento... Agora fico muito dividido, antigamente para você conhecer novidades, se aprofundar em um assunto, aprender alguma nova habilidade ou teoria acadêmica, para qualquer coisa de entretenimento ao lazer você dependia de papel, ou seja, se você não soube-se onde encontrar as coisas, você estava ferrado, lembro que as pesquisas de escola dependiam de enciclopédia ou dos livros didáticos, quando comecei no hobby dos RPGs as novidade só chegavam através de amigos mais experientes ou das xeroxs, você conhecia as novidades através de copias ou comprando material importado, muitas vezes muito acima da sua realidade financeira, mas fazer oque? Desistir porque você é pobre demais para se divertir com aquilo? Abandonar todo o incentivo á leitura ou aprendizado de uma nova língua, novos conceitos e idéias que você não era incentivado a desenvolver pelas limitações materiais e intelectuais da vida?

    Acho que existem duas coisas que acabam com a pirataria, a pirataria que gera danos é claro, aquela que desestimula a criação e o trabalho: A 1° é o Preço, acredito firmemente que produtos feitos com mais cuidado e com materiais mais nobres deve ter um valor diferenciado, mas os livros, principalmente eles, veículos de conhecimento e lazer devem ter um preço muito, muito acessível mesmo. 2° qualidade, um trabalho de qualidade, um texto criativo e bem escrito, um produto que facilite a vida ou traga inovações para o individuo passa a ser algo valorizado por ele, passa a ter um valor simbólico reconhecido por esse individuo e logo passa a ser desejado por ele, ninguém que quer realmente aquele produto se contentará com uma cópia, a prova disso são produtos cujo o valor é construído socialmente ou seja, reconhecido como de ]qualidade e desejado, e esse produto passa a ser desejado mesmo por aqueles que não teriam condições de compra-lo, o reflexo disso nós podemos reconhecer em roubos de tênis, relógios e celulares.

    Bem, desculpa o texto longo, mas concluindo meu raciocínio. Acho que a pirataria passa por uma conscientização e uma mudança de habito que levará anos para se consolidar, mas que passa por trabalhos como esse seu post, acho que as empresas e os autores, escritores, etc, devem se conscientizar em produzir produtos que estejam dentro da realidade material do Brasileiro comum, pois a classe média e alta irá comprar produto de qualquer forma, mas as classes negligenciadas, aquelas que nãos e podem comprar o produto, deveriam poder conhece-lo e passar a reconhecer seu valor simbólico, só assim teríamos um mudança de paradigma realmente positiva. E finalmente, já que a pirataria é uma realidade agora, as empresas e autores devem pensar numa margem de prejuízo categorizada como "pirataria", para poder continuar publicando e alcançando novos patamares de vendas e ou públicos, buscando compensar essa perda se inserindo em novos espaços, ouros estados e ou países com suas publicações.

    :-) Excelente post! :-)

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